sexta-feira, 29 de julho de 2011

Velozes e Furiosos



JP era um grande amigo, mas vivia me convencendo a fazer merda. Eu nunca soube andar de skate e desde pequeno sempre tive um pavor daquele atestado de óbito sobre rodas, pois vi meu irmão se quebrar muito (hoje ele se quebra fazendo kung-fu...), e , mesmo assim, JP uma vez me convenceu a subir em um e me agarrar na traseira de uma caminhonete, o que resultou em um tombo lindo e uma cabeçada na placa de "pare". Outra vez, ele me convenceu a descer do 8º para o 7º andar do prédio... pela sacada. Como o 8º era a cobertura, a sacada dele era uns 45 centímetros mais recuada do que a dos outros andares, mas, ainda assim, É A PORRA DO OITAVO ANDAR! Mas, como criança estúpida, meu dever era fazer estupidezes, e então aceitei o desafio e o cumpri com maestria... o que é meio óbvio, ao contrário não estaria aqui para contar isso.

Porém, a pior merda que ele me convenceu a fazer foi ir para "a rua de trás". Como vocês podem perceber, minha infância e pré-adolescência foram cheias de locais míticos: "o parquinho", "o paradão", "a rua de trás", etc. Mas, tenho que admitir que esta rua era o local mais mítico e mortal que conheço. Contarei-lhes o porquê.




JP entrou na escola na metade da quarta série, vindo de São Paulo... Ela ficava escondido lá no cantinho dele, isolado, e, como eu era um cara altamente extrovertido e "lhindo", resolvi puxar um papo sobre o plano astral em que vivemos, os 12 talismãs, a serpente que dá o bote no novilho indefeso, etc.

Em pouco tempo nos tornamos melhores amigos (BFF, honey) e começamos a voltar da escola juntos. Certo dia, JP me convidou para almoçar na casa dele e depois sair para dar uma volta de bicicleta. Aceitei, pois quem em sã consciência recusaria comida de graça?

Após o almoço, jogamos um pouco de Tarzan no Playstation e um outro jogo onde você começa em cima de um trem e tem que matar uns russos comunistas, mas que era muito difícil, por isso decidimos sair para pedalar.

JP pegou sua bicicleta e eu fiquei com a do pai dele, só que a correia ficava frequentemente caindo, então tínhamos que parar e dar uma de caras-do-box-da-Fórmula-Um para colocá-la de volta no lugar.




Conforme o tempo foi passando, acabamos ficando entediados de pedalar pela avenida principal e decidimos ir para "a rua de trás". Vejam bem, todo o tipo de coisa ruim acontecia na "rua de trás". Assaltos, assassinatos, estupros, rodinhas de pagode, gravações de Sandy & Jr. , era quase um Inferno na Terra. Ela só devia ser usada de passagem rápida para outros locais, mas nunca, nunca devia se permanecer ali por mais de três minutos. Este era o tempo que tínhamos para cruzá-la antes que o MAAAAL se abatesse sobre nós.

Porém, como criança sempre faz o contrário do que você diz para não fazer, fomos para lá, ver qual era a moral do lugar. Ficamos dando voltas por ali, sem nada acontecer, o que nos fez questionar a periculosidade do local. Até que, a correia caiu. E o MAAAL percebeu.




No momento em que JP parou ao meu lado e eu desci da bicicleta para arrumar a correia, um cara surgiu na esquina atrás de nós. E foi precedido por mais um cara, com um pedaço de pau na mão. E mais outro, e outro, e outros, e muito mais começaram a brotar daquela esquina (provavelmente um ponto de respawn) com pedaços de pau, alguns com facões e cabos de vassoura. Ficamos olhando aquilo sem saber como reagir.


Puta que o pariu, o cara do meio é igual ao JP!


Permanecemos parados ali, até que um deles soltou um berro de Uruk-hai e todos os outros começaram a berrar e correr em nossa direção.




JP, grande amigo como era, subiu em sua bicicleta e saiu, mas eu fiquei para trás, tentando consertar a correia, e a morte iminente ficando cada vez mais próxima. JP, vendo que fiquei para trás, parou e berrou:

- VEM!

- Guentaí, to arrumando o negócio.

- CORRE, PORRA!

- Tá, mas eu vou deixar a bicicleta pra trás, pode ser?

- NÃO!

- Ah, dane-se, então.

Peguei a bicicleta e saí correndo, JP mais a frente e os Uruk's logo atrás, brandindo suas foices e machados de guerra. Entramos na primeira esquina que levava à avenida principal, que nesta hora estava bem movimentada. Quando perceberam que havíamos saído de seu domínio, os Uruk's pararam de nos perseguir, balançando seus punhos e jurando vingança. Alguns pequenos goblins tentaram nos seguir, mas pararam quando perceberam que eles eram menores do que nós dois e voltaram para junto de seu bando. Ficamos parados ali por um tempo, até cair na risada e continuar pedalando por aí.


E, ao contrário do que pode parecer, nós voltamos, sim, à "rua de trás". Várias vezes, na verdade. Foi lá onde consegui fazer uma derrapada de 360º sem pôr o pé no chão e depois fiquei girando no mesmo lugar, com a cara arrastando no chão.


Minha cara ficou parecida com isso, só que com areia na boca.






Um comentário:

  1. "Lhindo" HEHEH mas é, vocês tudo falam lhindo, tsc.
    Morar em cidade que não seja capital deve ser tão emocionante, se olhar pro meu passado, passei a vida inteira no computador (...literalmente), porque tem uma lista de coisas perigosas que podem te acontecer no momento que você coloca o pé pra fora do portão. Só passei a ir pra casa da minha amiga sozinha (basta subir uma escada no fim da rua) com uns 12 anos...

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